sexta-feira, 19 de abril de 2019

Apresentando a Biblioteca de Xangô

Saudações! 


É com muito entusiasmo que apresento-lhes este espaço!

Apesar do nome de "bastismo", a menção à Xangô é uma pequena homenagem aquele que é meu padrinho e protetor . 
Não esperem conteúdos estritamente religiosos  e setoriais.  Aqui, a literatura terá o maior espaço possível entre resenhas, indicações e matérias sobre autores. Conjuntamente, a produção de crônicas, artigos científicos, de opinião e textos didáticos com temas relacionados a: História; Política; Filosofia; Religião e outros assuntos de interesse deste autor.

Meu  único compromisso é aliar um trabalho autoral com a máxima qualidade possível de produção. Desde que esta, seja, exclusivamente textual, nada contra os produtores de outras plataformas (sou expectador assíduo de outros blogs e canais de vídeos), porém, é para reverenciar o TEXTO que criei este blog!

Resumidamente, segue minha apresentação: Me chamo Felipe, tenho 33 anos, moro em São Sebastião no litoral norte de São Paulo. Casado, tenho uma filha linda que é a razão de nossas vidas. Em nível técnico tenho formação em Administração, sou professor licenciado em História - Especializado em Pesquisa e Docência. Atualmente curso MBA em Gestão de Pessoas. Outras formações extracurriculares nas áreas de política e filosofia fazem parte deste pacote. Além de livros, música, cinema, séries, boa conversa e política, me interesso sobre diversas coisas que nem sempre consigo me aprofundar. Ah! Não posso esquecer do futebol, canhoto, são paulino tri-mundial (único no Brasil), tenho Romário como a maior referencia brasileira daqueles que vi até o momento e,  Messi, o maior de todos que assisti.



SOBRE O PATRONO DO BLOG...


Discorrer sobre Orixás não é somente uma questão de crença. Aqui para além disso, tem relação de resistência política-cultural, sobre informações dos aspectos históricos de povos  formadores de uma parcela da nossa identidade. Mas, sobretudo, de luta contra o preconceito religioso que atenua-se com campanhas de mídia de combate a "intolerância" - palavra ao meu entender, distante ou desapropriada de uma política pública do Estado que, na prática, não temos. Insuficiente para fazer valer princípios democráticos, republicanos, de RESPEITO e IGUALDADE com questões culturais e de crenças. Este aspecto deixemos para outras discussões... 

Xangô é divindade mitológica do panteão Iorubá, dos povos africanos que tiveram maior concentração no território dos atuais: Nigéria e Benin [1].  Foram um dos maiores contingentes de escravos traficados para as Américas, em maioria para o Brasil, notadamente entre os séculos XVI e XIX. 

Segundo Pierre Verger [2] nossa maior referencia de estudos antropológicos e etnográficos sobre os cultos ancestrais dos Orixás. 
"... A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o travão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização o poder, à, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada..." [3]. 
Assim, com a maioria das divindades, no caso de Xangô, pode-se destacar duas faces de análise que, segundo Verger, são: Histórica e Divina.
"...Como personagem histórico, Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, “Rei de Oyó”, filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitam por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso - literalmente rei de Kòso (grifo do blog), que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì.." [4].  
"...Xangô, no seu aspecto divino, permanece filho de Oranian, divinizado, porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oiá, Oxum e Oba. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitosos. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma uma casa atingida pelo raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vem procurar nos escombros os dùn àrá (pedras de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido..." [5].  


".. O símbolo de Xangô é o machado de duas laminas estilizado, osé (oxé), que seus elégùn trazem nas mãos quando em transe. Lembra o símbolo de Zeus em Creta. Esse oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado e lembra, de certa forma, a cerimônia chamada ajere, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo. Eles não se sentem incomodados por este fardo ardente, demonstrando, através desta prova, que o transe não é simulado..." [6]










"... Os adeptos de Xangô seguram nas mãos um instrumento musical utilizado apenas por eles, o sere (xerê), feito de uma cabaça alongada e contendo no seu interior pequenos grãos. Convenientemente sacudido durante a recitação dos louvores de Xangô, esse instrumento imita o ruído da chuva..." [7].








"...Fazem-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos de espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição..." [8]





Dos filhos de Xangô, temos definição de seu "Arquétipo" também por Verger, que, no Brasil e em outros países foram absorvidas e re-significadas em outras formas, geralmente tentando entendimento de culto às características ligadas ao Orixá. 

"...O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com o tato e encanto no decurso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo aguardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça..." [9]
Salientar que este resumo contextualiza a obra de Verger, não, por detrimento ou demérito de outros pesquisadores e escritores. A intenção desta apresentação/homenagem, tem como tentativa-erro, aproximar o leitor daquilo que podemos entender como informações diretas da "fonte" ou seja, mais próximo do provável conjunto de ensinamentos genuínos sobre Xangô em África, a medida que essa divindade originariamente nasce naquele território. Contudo, outros pesquisadores acadêmicos ou não, sacerdotes, médiuns, professores e a mídia em geral publicam há décadas, trabalhos relevantes sobre este Orixá. Boa referencia para entendermos este fluxo de Verger com a África, talvez, esteja no documentário " Um mensageiro entre dois mundos" [10].

Kaô Kabecilê ! 


Expressão em Nagô que significa "Venham Saudar o Rei"

Saudação a  Xangô. Deus da Justiça. 



Sem maiores delongas! Espero dos leitores interação e críticas construtivas. 

Em breve novos posts estarão disponíveis...


REFERÊNCIAS


[1] http://civilizacoesafricanas.blogspot.com - Civilização Iorubá 

[2] http://www.pierreverger.org.br - Biografia                
[3, 4, 5, 6, 7, 8, 9] Verger, Pierre Fatumbi. Orixás.
[10] Um mensageiro entre dois mundos.