sexta-feira, 26 de abril de 2019

POLÍTICA 01 - Projeto Educação e Política.



Saudações! 

A política é uma das pautas a serem exploradas por aqui. Entre suas infinitas possibilidades, minha atenção estará voltada ao desenvolvimento de temas bases que tenham caráter informativo. 
No contexto da atuação política, seja ela partidária ou não, acredito muito  que o sucesso do engajamento individual e coletivo passe, obrigatoriamente, por uma questão educacional em nível "micropolítico" - dentro de pequenos grupos, entidades, associações e coletivos congeneres... Claro que a educação como política de Estado, é a saída para muitos problemas, inclusive os políticos, entretanto, uma formação complementar, mínima que fosse, assim como acontecem em áreas do esporte e cultura, em alguns poucos Estados e cidades brasileiras, poderiam fomentar a importância da política na vida das pessoas. 
Não me refiro aos centros acadêmicos especializados em graduações e pós graduações na área de ciência política, essas, tem muito valor, entretanto, estão asseguradas a uma simbólica parcela da sociedade que certamente, na maioria dos casos, seguirão carreiras em docência ou pesquisa, quando não as duas. 
Com a internet o acesso a informação e cursos básicos, qualquer cidadão pode construir o conhecimento que os conteúdos formais nas áreas de História, Sociologia e Filosofia durante o ensino médio, por várias questões, não despertam o interesse dos jovens. Abaixo seguem como sugestão alguns deles: 


Contudo, proponho iniciativas locais e comunitárias. Preferencialmente com formulações próprias adaptadas a realidade regional.  
Neste post, compartilho resumidamente minha experiencia teórica e prática. Teórica na produção de um projeto simples e autoral, prática na aplicação de um curso para pessoas do meu bairro na sede social da nossa associação de moradores, ocorrido em 2018, certificando 17 pessoas num programa com duração total de dois meses e meio - 20 horas/aula. 
Nosso projeto foi publicado pelo site e divulgador científico - Sabedoria Popular- acesse por aqui




Para maiores informações sobre o curso ou projeto, estou disponível no email: prof.matos.historia@gmail.com 

sábado, 20 de abril de 2019

RESENHA 01 - O REI DE HAVANA




LIVRO:  O Rei de Havana
TÍTULO ORIGINAL: Ey Rey de La Habana
AUTOR: Pedro Juan Gutiérrez 
EDITORA: Comp. das Letras - Selo: Alfaguara 
TRADUÇÃO: José Rubens Siqueira 
PÁGINAS: 182
EDIÇÃO:
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2017
PAÍS DE ORIGEM: Cuba  
MÉDIA DE PREÇO: R$ 30,00. 






SOBRE O LIVRO: 


Com uma narrativa que retrata  Cuba dos anos 1990, tem na cidade Havana o ambiente para o desenvolvimento de toda história. O protagonista Reinaldo, (Rei), é o caçula de uma família desestruturada tem a existência entregue a calamidade, falta de sorte e oportunidades, pobreza, prostituição, consumo de drogas, penúria e indigência, aspectos esses que também permeiam a vida dos demais agentes envolvidos na trama. 

Após, trágica e violentamente, perder sua família, Rei é levado a uma espécie de cadeia para menores - reformatório- e ali passa algum tempo até conseguir fugir. Alguns aprendizados e traumas deste período atravessam consigo toda a narrativa. Após sua fuga, as ruas dos bairros periféricos de Havana passam a ser seu lar, o convívio com pessoas muito abaixo da linha de pobreza, miséria, de pertubações psicológicas, mortes e assassinatos, de uso de drogas e bebidas, além de uma exacerbada sexualização tanto em termos comerciais como as prostitutas, como aqueles nas mais bizarras situações de sujeira e degradação que tiravam proveitos do sexo. 
É nesse ambiente que Rei desenvolve sua vida. Agraciado por uma potencia sexual produzida pelo seu falo ímpar e níveis de saciedade estratosféricos, atrai atenção e amores de várias personagens, mulheres das mais variadas características, prostitutas, senhoras e cartomantes, sem contar os travestis. Entretanto, a sua maneira, vive um caso de "amor" - se assim pudéssemos chamar - com Magda, vendedora de amendoins torrados e profissional do sexo. O relacionamento entre ambos perpassa toda a narrativa, entre idas e vindas, vivem doentiamente uma relação que beira a loucura com muito rum (mais típico que água na história dessas pessoas), cigarros, drogas, pouca, mais muita pouca alimentação e muita sujeira e sessões de sexo que chegam a durar dias!  Rei também tenta trabalhar em algumas poucas ocasiões, porém, sempre algum infortúnio o atrapalha, sua atração pela vida marginal dos guetos, além de Magda, não o deixa progredir. 

Por fim, Magda e Rei, se aproximam cada vez mais após um acidente de proporções coletivas que os fazem por mútua ajuda conviverem até o desfecho da trama. Na verdade um grande drama humanitário.  
  
MINHA AVALIAÇÃO: 

Ruim ()
Regular () 
Bom ()
Ótimo (X)
Sensacional - Fodástico! ()

Pontos positivos: Narrativa envolvente e instigante. O leitor é absorvido pela trama que, para além dos problemas factuais das personagens, apresenta uma idéia do que tenha sido ou possa ter sido, a questão do desenvolvimento da vida humana em situações como aquela. E quão dramática é a realidade de milhões de seres humanos quando políticas de Estado, sejam as ditas de direita ou as de esquerda, não produzem níveis minimamente aceitáveis de vida e desenvolvimento com dignidade para esmagadora maioria. 
Cabe-nos refletir não somente sobre Cuba. Mas sim, sobre toda as formas de perversidades que a competição por protagonismos tantos sociais e políticos de grandes potencias mundias influenciam negativamente, por um desencadeamento de fatores a vida de milhões de pessoas. É um livro para muito além de um simples conto...       


Pontos negativos: Apesar de um texto simples e direto que facilita o entendimento dos leitores, além de absorve-los até nunca mais conseguirem parar. O livro trata, talvez, com extrema crueza e pouquíssimo decoro, diálogos e cenas sexuais exacerbadamente. Para leitores com dificuldades de distinção moral em obras e apresentações artísticas, podem enfrentar bloqueios até gerar algum desconforto. 
Confesso que como primeira leitura deste autor, fiquei um pouco apreensivo com descrições de alguns detalhes como odores e formas. Longe de julgamentos quaisquer, eles me levaram a refletir que para o entendimento e sensibilização acerca do drama daquelas pessoas, faziam-se necessários.       

Por que (sim/não) recomendo este livro? 

Sim, recomendo este livro! Pelo tema, pelo texto, e por todas as qualidades que avalio nele. Tenho apreço pela literatura latino americana, penso que nós mesmo com diferenças culturais e políticas, temos que saber pertencer a este universo. Essa pode ser uma boa leitura para cada vez mais nos aproximar. "Nosotros" aqui no Brasil, temos muitas cidades e bairros com dramas semelhantes de Havana, bem como milhares de meninos como Rei. Boa leitura!


sexta-feira, 19 de abril de 2019

Apresentando a Biblioteca de Xangô

Saudações! 


É com muito entusiasmo que apresento-lhes este espaço!

Apesar do nome de "bastismo", a menção à Xangô é uma pequena homenagem aquele que é meu padrinho e protetor . 
Não esperem conteúdos estritamente religiosos  e setoriais.  Aqui, a literatura terá o maior espaço possível entre resenhas, indicações e matérias sobre autores. Conjuntamente, a produção de crônicas, artigos científicos, de opinião e textos didáticos com temas relacionados a: História; Política; Filosofia; Religião e outros assuntos de interesse deste autor.

Meu  único compromisso é aliar um trabalho autoral com a máxima qualidade possível de produção. Desde que esta, seja, exclusivamente textual, nada contra os produtores de outras plataformas (sou expectador assíduo de outros blogs e canais de vídeos), porém, é para reverenciar o TEXTO que criei este blog!

Resumidamente, segue minha apresentação: Me chamo Felipe, tenho 33 anos, moro em São Sebastião no litoral norte de São Paulo. Casado, tenho uma filha linda que é a razão de nossas vidas. Em nível técnico tenho formação em Administração, sou professor licenciado em História - Especializado em Pesquisa e Docência. Atualmente curso MBA em Gestão de Pessoas. Outras formações extracurriculares nas áreas de política e filosofia fazem parte deste pacote. Além de livros, música, cinema, séries, boa conversa e política, me interesso sobre diversas coisas que nem sempre consigo me aprofundar. Ah! Não posso esquecer do futebol, canhoto, são paulino tri-mundial (único no Brasil), tenho Romário como a maior referencia brasileira daqueles que vi até o momento e,  Messi, o maior de todos que assisti.



SOBRE O PATRONO DO BLOG...


Discorrer sobre Orixás não é somente uma questão de crença. Aqui para além disso, tem relação de resistência política-cultural, sobre informações dos aspectos históricos de povos  formadores de uma parcela da nossa identidade. Mas, sobretudo, de luta contra o preconceito religioso que atenua-se com campanhas de mídia de combate a "intolerância" - palavra ao meu entender, distante ou desapropriada de uma política pública do Estado que, na prática, não temos. Insuficiente para fazer valer princípios democráticos, republicanos, de RESPEITO e IGUALDADE com questões culturais e de crenças. Este aspecto deixemos para outras discussões... 

Xangô é divindade mitológica do panteão Iorubá, dos povos africanos que tiveram maior concentração no território dos atuais: Nigéria e Benin [1].  Foram um dos maiores contingentes de escravos traficados para as Américas, em maioria para o Brasil, notadamente entre os séculos XVI e XIX. 

Segundo Pierre Verger [2] nossa maior referencia de estudos antropológicos e etnográficos sobre os cultos ancestrais dos Orixás. 
"... A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o travão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização o poder, à, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada..." [3]. 
Assim, com a maioria das divindades, no caso de Xangô, pode-se destacar duas faces de análise que, segundo Verger, são: Histórica e Divina.
"...Como personagem histórico, Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, “Rei de Oyó”, filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitam por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso - literalmente rei de Kòso (grifo do blog), que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì.." [4].  
"...Xangô, no seu aspecto divino, permanece filho de Oranian, divinizado, porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oiá, Oxum e Oba. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitosos. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma uma casa atingida pelo raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vem procurar nos escombros os dùn àrá (pedras de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido..." [5].  


".. O símbolo de Xangô é o machado de duas laminas estilizado, osé (oxé), que seus elégùn trazem nas mãos quando em transe. Lembra o símbolo de Zeus em Creta. Esse oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado e lembra, de certa forma, a cerimônia chamada ajere, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo. Eles não se sentem incomodados por este fardo ardente, demonstrando, através desta prova, que o transe não é simulado..." [6]










"... Os adeptos de Xangô seguram nas mãos um instrumento musical utilizado apenas por eles, o sere (xerê), feito de uma cabaça alongada e contendo no seu interior pequenos grãos. Convenientemente sacudido durante a recitação dos louvores de Xangô, esse instrumento imita o ruído da chuva..." [7].








"...Fazem-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos de espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição..." [8]





Dos filhos de Xangô, temos definição de seu "Arquétipo" também por Verger, que, no Brasil e em outros países foram absorvidas e re-significadas em outras formas, geralmente tentando entendimento de culto às características ligadas ao Orixá. 

"...O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com o tato e encanto no decurso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo aguardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça..." [9]
Salientar que este resumo contextualiza a obra de Verger, não, por detrimento ou demérito de outros pesquisadores e escritores. A intenção desta apresentação/homenagem, tem como tentativa-erro, aproximar o leitor daquilo que podemos entender como informações diretas da "fonte" ou seja, mais próximo do provável conjunto de ensinamentos genuínos sobre Xangô em África, a medida que essa divindade originariamente nasce naquele território. Contudo, outros pesquisadores acadêmicos ou não, sacerdotes, médiuns, professores e a mídia em geral publicam há décadas, trabalhos relevantes sobre este Orixá. Boa referencia para entendermos este fluxo de Verger com a África, talvez, esteja no documentário " Um mensageiro entre dois mundos" [10].

Kaô Kabecilê ! 


Expressão em Nagô que significa "Venham Saudar o Rei"

Saudação a  Xangô. Deus da Justiça. 



Sem maiores delongas! Espero dos leitores interação e críticas construtivas. 

Em breve novos posts estarão disponíveis...


REFERÊNCIAS


[1] http://civilizacoesafricanas.blogspot.com - Civilização Iorubá 

[2] http://www.pierreverger.org.br - Biografia                
[3, 4, 5, 6, 7, 8, 9] Verger, Pierre Fatumbi. Orixás.
[10] Um mensageiro entre dois mundos.